sábado, novembro 01, 2008

O Casamento da Tia Sylvinha



Era o casamento da tia Sylvinha ! Veja bem, na saleta que ficava contígua à cozinha, havia uma mesa retangular com bancos compridos de madeira que a ladeava. Portanto, tínhamos que nos sentar e ir nos movendo para o cantinho, para que outros pudessem se sentar também. Mas somente se sobrasse para você um assento no banco que ficava do lado paralelo à janela, apertadinho entre a mesa e a parede.
No dia dos preparativos para o evento, sentada no banco de fora, e ainda por cima, de frente à janela, minha visão era privilegiada e podia observar tudo bem iluminado... Estavamos muito atarefadas ajudando a preparar uns salgadinhos. O processo era, digamos, de linha de montagem! Tínhamos uns palitos, e vazilhames com rodelas de salsicha, pedaços de pimentão, azeitona, cenoura cozida talvez... Bem, o fato é que a iguaria que estávamos preparando, segundo me informaram, tinha um nome curioso: "sacanagem". Que nome engraçado para um salgadinho!
Cada um pegava o pedacinho de sua responsabilidade e colocava no palito e passava o mesmo adiante para o outro colocar o seu, até que aquela espécie de mini-churrasquinho colorido ia para a travessa. Enfim, ali estávamos muito animadas, envolvidas nos afazeres e volta e meia, algum adulto passava e dizia: - Tem que trabalhar assoviando.... Muito divertido esse tal de casamento!











sexta-feira, outubro 31, 2008

O Mágico JUVA 4



Lá íamos nós, na maioria das vezes somente as netas, viajar no JUVA 4 azul-marinho estratégicamente estacionado no meio do quintal ensolarado da Vó. Um pouco acima das mudinhas de -pasmem!- moranguinhos, ficava o antigo carro azul-marinho da Renault. Nem sei quanto tempo ele esteve lá, nem o que fazia no quintal. De quem era o carro? Alguém me perguntou há um tempo atrás, e eu, meio desconcertada, fiquei sem saber o que dizer. Nunca havia me feito essa pergunta. Do tio Vevé, talvez... Afinal de contas, para crianças que diferença isso faz?

Voltando às viagens, as "tias do Rio de Janeiro" às vezes enviavam calçados e bolsas para doação. Imagine só! Estavamos nos anos setenta, dos sapatos plataforma, "Cavalo -de-Aço"e a moda, diga-se, de gosto meio duvidoso. No entanto, nós as viajantes, colocávamos os nossos lindos sapatos clássicos de salto escarpin, um pouquinho avantajado para os nossos pés e entrávamos, todas muito elegantes, no JUVA4 azul-marinho.



Sentávamos confortavelmente no estofado perolado que parecia formado por uns gominhos ou os segmentos do corpinho de uma lagarta enorme. Nada de apertar pedal para trocar de marcha, era só usar uma espécie de alavanca que ficava perto do volante...E lá iamos nós!

O guarda-roupa encantado que transporta as crianças para a terra de Nárnia? A plataforma de trem 9¾ que leva Harry Potter à Hogwart? Nós? Nós nem sabíamos disso e tínhamos o JUVA 4 azul-marinho que nos levava para onde quiséssemos, e com um detalhe: onde cada um no automóvel decidisse ir, ao mesmo tempo! Totalmente mágico! E , assim como nas outras histórias, nós viajávamos por lugares distantes, longínquos, vivíamos extraordinárias aventuras no quintal da Casa da Vó. Mas, chegávamos ao lado do latão de água vermelho, vizinho do JUVA4 azul-marinho na mesma grama, felizes e tagarelando, a tempo para o almoço!



A Casa da Vó!

A Casa da Vó era ali, quase na outra esquina... No armário imponente, de madeira bem escura, com aqueles detalhes retorcidos nas quinas que pareciam longas tranças negras, ficavam guardados os pães que o Vô comprava e o meu irmão teimava em comer antes do almoço, deixando a mãe brava! Mas, fazer o quê ? Assim era a Casa da Vó: sem tranca na porta...